O dia amanhece, abro os olhos e me recordo de quem sou...
Olho para meus filhos, e agradeço a Deus por tê-los confiado a mim...
E aí me levanto para minha rotina... consciente de que sou a Márcia, mãe do Matheus e da Alessandra, esposa do Anderson...
Durante a rotina, me recordo que tenho mais sete partes. Sete partes de um todo. Meus irmãos... que apesar de também terem suas famílias, seus filhos, seus cônjujes, estão ligados intimamente a mim, como uma corrente que não se quebra, não se solta jamais.
E então, com uma angústia no peito mas ao mesmo tempo um orgulho tremendo, dou ênfase ao que jamais precisarei me recordar: sou sua filha. Digo que Jamais precisarei me recordar, pq isso está em mim o tempo todo mãe. O dia todo, até mesmo dormindo. Porque sonho contigo todas as noites, mas como que um castigo, não me recordo do sonho... mas sei que sonhei.

Pq meu espírito testifica isto. E aí sigo minha rotina, pensando...pensando... em como seria bom se fôssemos eternos. Se pudéssemos conviver uns com os outros eternamente. Tento entender o sentido da vida, faço perguntas a mim mesma, pq pra Deus tenho vergonha de perguntar, pois pareço criança aos 37 anos. Pergunto pra mim: qual o sentido de nascer, conhecer minha mãe, meu pai, meus irmãos... ter uma vida inteira com eles... brigando, amando, curtindo, sorrindo, chorando... e depois tudo vai se desfazendo... cada um vai para seu canto, cada um vai constituir sua família, cada um vai viver a sua vida... e aí ficam os pais em casa... e vão envelhecendo e vão morrendo...e todos nós vamos envelhecendo e morrendo...qual o sentido disso ?
Mas aí eu penso que o sentido é o que menos importa agora, pq o que importa é o que vivi...o que experimentei... e posso dizer que fui feliz como nunca imaginei que tinha sido.

Penso em minha adolescência, quando acreditava que todos eram meus inimigos...penso na minha rebeldia... na minha altivez ... nos sofrimentos que senti à toa... nas brigas que contrai com meus irmãos ...brigas sem sentido... mas logo em seguida, me vem os momentos de amor, de união... momentos em que o sangue gritava alto e colocávamos nossas vidas em prol uns dos outros... quando eu engravidei... me lembro dos olhos do Reinaldo, da Cibele, da Cidinha... expressões de “estou contigo para o que der e vier”... “conte comigo pra sempre”... “estamos juntos não se preocupe”... me lembro das doenças de um que era o desespero do outro... me lembro da minha mãe quando deu aquele infarto e como ficamos... nos escorando...nos olhando assustados com medo de que o pior acontecesse... 

Vem tudo na minha cabeça, durante minha rotina. E pq? Pq só agora isso tudo me vem a cabeça... pq só agora percebo que era feliz demais... que tinha tudo? Aí me respondo: pq agora, o tudo se foi... o tudo, a alegria, a felicidade...

E o que nos resta agora, é constituir um tudo pra cada um de nós. Um tudo igualzinho ao tudo que vc foi. Ao tudo que vc é .
Ahh mãe...posso dizer com toda certeza que o que vivemos... o que nós , eu e meus irmãos vivemos ... foi tudo. Tudo de bom... tudo de maravilhoso...de digno... de completo que uma família é capaz de ser. Até nos piores momentos... de falta de recursos... de dor, de briga, de confusão... tivemos tudo. Pq vc era o tudo. Era só te olhar, ler seu olhar de reprovação, de aprovação, de questionamento... era só sentir sua pele com um beijo, era só te ver... que TUDO era renovado. Era só ouvir seus sermões, sua mania de querer resolver nossos problemas... era só ouvir vc mãe... ouvir qualquer coisa....mas ouvir vc.
Hoje, temos que construir o tudo que vc foi para nossos filhos.
Peço a Deus que me dê habilidades, competência pra ser um pouquinho parecida contigo.
Pq tenho esperanças de te ver novamente...
Ahh mãe... vc , meu tudo. Me ensina a ser tudo como vc foi mãe.
 

Eu te amo!


19/06/2010